23.11.10

de criança-soldado a mãe-leoa

Na sexta-feira passada tive o privilegio de assistir ao testemunho da China Keitetsi, uma ugandensa que viveu 10 anos num inferno, foi criança-soldado no Exército de Resistência Nacional. O que mais me impressionou não foi a tragédia, não foram os abusos, nem a sua descrição do medo que sentia diariamente, o que mais me impressionou foi a descrição da nova vida que tem agora. Talvez só quem tenha passado pelo "inferno" saiba realmente o que é o "paraíso". "É como se tivesse nascido outra vez", disse ao descrever a sua libertação emocional depois de se ter refugiado na Dinamarca e ter começado a caminhada de activista dos direitos humanos. A China tem 2 filhos fruto das violações que sofreu no Uganda mas só veio a aprender a ser mãe anos depois, quando engravidou de Aisha (que também acompanhou nas conferências que deu em Portugal). Agora a família está reunida e ela quer lutar pelas crianças-soldado e por aqueles que andaram de arma na mão enquanto crianças. Muitos dos seus camaradas morreram em combate, outros não sobreviveram ao terror e suicidaram-se ou perderam-se no álcool e nas drogas. A China lutou pela sua vida, sobreviveu e hoje vive e luta por muitas vidas. Mas ela diz que é igual a nós, tem os mesmos medos, sonhos, lutas... os seus heróis são as mães africanas, mães que não sabem qual vai ser a próxima refeição, que não sabem o que fazer se os filhos adoecerem mas que defendem os seus filhos como leoas. "As mães são o vosso tesouro" dizia. Diante da sua força e coragem penso: "tenho de continuar a lutar pelos meus sonhos, quero ser parte da mudança, quero salvar uma menina que seja porque essa menina pode ser uma luz como a China."
capa do livro "Child Soldier" escrito por China Keitetsi

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