O pai da família Don Adolfo, conta-nos um pouco da sua história que está ligada á história da Nicarágua. Este país viveu, tal como Portugal, mais de 40 anos debaixo de ditadura. A ditadura da família Somoza protegia os seus próprios interesses e a elite latifundiária. Adolfo conta-nos que não pude gozar a sua juventude. Sem direito a estudar e perseguidos pela Guarda Nacional, polícia da ditadura, os jovens decidiram pegar em armas para pôr fim à opressão. A revolução aconteceu em 1979 mas a contra-revolução, apoiada pelos EUA e as suas ideias anti-comunistas, provocou uma guerra civil que durou mais de 10 anos. Adolfo lutou pela liberdade durante esse tempo.
Após a revolução, os latifundiários fugiram do país e o governo entregou as terras ao camponeses. Cada um ficou com a sua parcela, mas a com contra partida que trabalhassem em cooperativas. Doña Marta, a mãe da família, conta-nos que nos anos 80 receberam equipas da Alemanha, Holanda e Inglaterra para ajudar nas colheitas de café. Desde então a cooperação internacional tem se mantido. E esta comunidade tem-se desenvolvido com o selo do comércio justo e café biológico.
Finalmente posso ver que o comércio justo não trata de melhorar individualmente a vida dos pequenos produtores mas de promover a educação, a igualdade de género e o bem-estar da comunidade em geral. Com os prémios que recebem do comércio justo conseguiram material escolar, melhorar o centro médico, comprar uma carrinha para uso da comunidade, o que é bastante importante num lugar tão remoto como este. Só há 1 autocarro que vai de manhã e regressa à tarde da cidade mais próxima - Esteli.
Apesar de tudo, a comunidade está longe de ter um nível de vida cómodo aos olhos ocidentais. O café dá para viver 3 meses do ano, 6 se a colheita for muito boa. As casas não estão ligadas à rede eléctrica. Têm painéis solares, o suficiente para luz, um rádio e uma pequena TV a preto e branco. Mas Adolfo diz: "não queremos estar ligados à rede nacional de electricidade, isso implica cortar muitas árvores e isso é o que não queremos." Conscientes da riqueza natural do sítio onde vivem, querem preservá-la através da agricultura biológica. O próximo projecto será apicultura, querem ter outra fonte de rendimento extra para poder manter os filhos na universidade.
O Eric pergunta a Adolfo como é que conseguem conviver com as pessoas com as quais travaram uma guerra? Ele diz-nos que tiveram de esquecer o ódio e perdoar "Não queríamos que os nossos filhos crescessem com ódio aos filhos deles, nem o contrário." Uma lição para o mundo!
Estou a aprender tanto aqui. Estou a aprender que com pouco se pode fazer muito. Estas famílias são um exemplo de solidariedade e generosidade, percebem que o bem comum é mais importante que o bem individual.
Don Adolfo mostra-nos as montanhas de Miraflor. |
Sem comentários:
Enviar um comentário